Quais são os principais problemas e desafios do governo Temer
- daneoart
- 2 de set. de 2016
- 3 min de leitura

Ao assumir a Presidência da República, Michel Temer tem dois anos e quatro meses de governo para mostrar a que veio. Os principais desafios impostos à nova gestão passam pela superação da crise econômica, mas não se restringem ao ajuste fiscal.
Em pesquisa realizada em julho, o Instituto DataFolha perguntou a 2,7 mil entrevistados qual é o principal problema do país na atualidade. A corrupção apareceu em primeiro lugar para 32% deles, seguida da saúde (17%), do desemprego (16%) e da violência (6%). A atenção relegada aos desvios de dinheiro público não surpreende especialistas. Para Rita de Cássia Biason, coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Corrupção da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Franca (SP), o fenômeno é reflexo da visibilidade da Operação Lava-Jato. Deflagrada em 2014, a ofensiva contra desvios na Petrobras contabiliza, até o momento, 106 condenações e nada menos do que 1.148 anos, 11 meses e 11 dias de penas. — Os escândalos estão muito em evidência, e a opinião pública é pautada por isso. É bom que seja assim, porque essa percepção gera maturidade política para fazer cobranças. Existem vários projetos importantes em discussão no Congresso, e a pressão da sociedade tende a ser cada vez maior. Temer e a base do governo não vão poder se esquivar — afirma Rita. Quanto aos demais desafios elencados, especialistas ouvidos por ZH são críticos. Na saúde, falta detalhar as propostas, algumas delas polêmicas, como a possível reestruturação do SUS. Ao mesmo tempo, as gafes do ministro Ricardo Barros chamam a atenção. Ele chegou a sugerir, entre outras coisas, que pacientes imaginam doenças ao buscar atendimento. No caso das ações para enfrentar a violência, há expectativa de que o Ministério da Justiça assuma a coordenação de uma política nacional de segurança pública para ajudar Estados e municípios — mas, por enquanto, não há nada definido sobre isso. Mesmo na área econômica, tratada como prioridade e fundamental para conter o desemprego, Temer recuou e fez concessões em troca de apoio político. Defensores de sua gestão argumentam que as limitações impostas pela condição de interinidade impediam ações enérgicas até aqui e garantem que, a partir de agora, haverá mudanças concretas. A seguir, confira um resumo de cada problema, o que Temer fez e o que pretende fazer e qual é a avaliação de especialistas. CORRUPÇÃO Presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), José Robalinho Cavalcanti diz que Temer cumpriu a promessa de não interferir na Lava-Jato, mas faz um apelo: espera que que o governo continue priorizando o combate à corrupção, inclusive com apoio financeiro à Polícia Federal. Ele também destaca a importância da discussão e aprovação das 10 medidas de combate à corrupção e afirma que o apoio da base do governo, maioria no Congresso, é fundamental. Embora reconheça a necessidade de aperfeiçoamento de alguns projetos, teme que ocorra uma "descaracterização" e diz que a sociedade precisa "ficar vigilante". SAÚDE O professor de Administração Pública da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Alvaro Guedes, diz que é cedo para avaliar as intenções do governo, mas considera importante o debate em torno da revisão do SUS, desde que para promover melhorias no atendimento aos cidadãos. Um dos pontos a ser priorizado, segundo ele, é a discussão acerca do financiamento do sistema, seu principal desafio hoje. Na avaliação do especialista, dificilmente o país escapará da recriação da CPMF, que incidiu sobre as movimentações bancárias durante 11 anos. DESEMPREGO Assim que tomar posse oficialmente, Temer terá de ser ágil na aplicação do ajuste fiscal prometido. Do contrário, a lua de mel do governo com a iniciativa privada, ancorada muito mais na impopularidade de Dilma do que nas iniciativas implementadas pelo sucessor, pode estar com os dias contados. O entendimento, segundo o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria Integrada, é de que a interinidade limitava os movimentos de Temer. Agora, a expectativa é de que o presidente adote postura mais contundente e medidas mais duras de contenção. VIOLÊNCIA Há o entendimento de que, nos últimos anos, o governo federal lavou as mãos na área da segurança pública, deixando a responsabilidade exclusivamente com os Estados. Um dos desafios de Temer, na avaliação de Eduardo Pazinato, coordenador do Núcleo de Segurança Cidadã da Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma) e associado pleno do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, é reverter essa situação e priorizar, entre outros pontos, a construção de novos presídios federais no país e a criação de um pacto nacional, incluindo Estados e municípios, pela redução de homicídios e de crimes violentos.
Comments